quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Homem de interesses voltados à sabedoria.


Música
Já adulto Nietzsche veio a ser um dos mestres da literatura alemã e continuou a sentir uma paixão profunda pela música. Nessa época, o filósofo tinha Platão e Ésquilo como seus autores clássicos favoritos. Compondo poemas e música, fundou com alguns amigos uma agremiação literária denominada Germânia. Mas foi na universidade que Nietzsche, como aluno, passou a tratar das relações entre a música e a tragédia grega. Em Leipzig, escreve ele: “três coisas constituem para mim uma consolação: o meu Schopenhauer, a música de Schumann e, ultimamente os meus passeios solitários”.
Seu primeiro livro O nascimento da tragédia no Espírito da Música, escrito em 1871, foi reeditado em 1886 com o título, O nascimento da tragédia, ou Helenismo ou Pessimismo, obra com fortes influências do filósofo Arthur Schopenhauer e do compositor Richard Wagner. A obra traz a concepção que Nietzsche tinha da tragédia baseada numa visão fundamentalmente nova da Grécia, ou seja, o sentimento trágico da vida é antes a aceitação e celebração dessa, a jubilosa adesão ao horrível e ao medonho, à morte e ao declínio. Ao resgatar o valor do homem trágico grego, Nietzsche elege a música e seus significados para a afirmação da vida: amor, liberdade, fatalismo e morte.
Na juventude, Nietzsche identifica-se de imediato com a filosofia da música do compositor Richard Wagner, quando este redige, em 1870, um escrito em homenagem ao centenário de Beethoven. Passa a acreditar no drama musical wagneriano enquanto possibilidade de uma reforma e revolução na cultura a partir da criação artística. A tragédia não seria o desprezo da existência e sim uma afirmação contrária à cultura metafísica cristã-platônica, a qual padecia a cultura ocidental. Pensa o filósofo ser a música de Wagner o meio ideal para esse fim. Assim, em 1872, Nietzsche escreve seu primeiro livro O nascimento da tragédia. O jovem Nietzsche afirmava que a união das artes, e em particular das imagens míticas representadas no palco, é necessária para tornar suportável a força destrutiva da música pura que, de outro modo, provocaria a destruição do indivíduo ou dos princípios individuais – tempo, espaço e causalidade. Destacará dois pontos – ou duas idéias – na sua argumentação. A primeira idéia é buscar a origem, a composição e a finalidade da arte trágica grega. Para isso, ele investigará a antítese entre dionisíaco e apolíneo. Na segunda idéia, Nietzsche denuncia a morte da arte trágica perpetrada por Eurípedes, homem teórico e racional que remete ao poeta e ao artista explicações racionais baseadas nos preceitos socráticos.
Expressando a força existente nos mitos e o papel da música, encarnada no coro, Nietzsche destaca quais importantes funções desempenhavam as tragédias gregas. Sua obra faz uma análise profunda sobre a cultura grega, ressaltando a conexão entre o sentido do trágico e a expressão musicalmente vigorosa da visão mítica. Para o filósofo, o que torna a arte trágica possível é a música e ele busca a valorização da música para pensar a tragédia grega como uma arte fundamentalmente musical ou com origem no espírito da música. O mito trágico, enquanto símbolo sublime oriundo da música, arranca o ouvinte espectador de seu sonho de aniquilação orgiástico, fundindo-o à natureza, diluindo sua individualidade. Em sua analise, Nietzsche denuncia a percepção do valor íntimo do trágico, captável através da música conjugada à força plástica do mito. A música, enquanto arte essencialmente dionisíaca, é o meio para se desfazer da individualidade. Nesse caso, ela é acrescentada de componentes apolíneos – cena e palavra – e o coro dionisíaco se descarrega em um mundo apolíneo de imagens. O mito trágico, criado pelo coro, apresenta uma sabedoria dionisíaca através do aniquilamento do indivíduo heróico e de sua união com o ser primordial, o uno originário (vontade). A finalidade é “aceitar o sofrimento com alegria” como parte integrante da vida, uma vez que o aniquilamento do indivíduo nada afeta a essência da vida.

2 comentários:

  1. A música, na visão nietzschiana seria a voz da natureza, a voz da realidade interior da vida. Fundar um estado sobre a música é fundar um estado sobre a própria realidade tendo ela vários significados ocultos por suas letras e com objetivos “não individualidade”, expressão e palavras e levariam qualquer ser humano à realidade como teriam feito os helenos citados por Nietzsche em suas variadas pesquisas.

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  2. amei o blog, e esse tópico achei mais legal ainda, pq não sabia que Nietzsche apreciava a música! =)

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