quinta-feira, 18 de novembro de 2010

"Deveria eu ter nascido grego?" - diz Nietzsche.


Antigüidade clássica grega
Encontrava assim como na filosofia o papel central da experiência estética. Como grande admirador da Antigüidade, principalmente da cultura clássica grega, o filósofo não aceitava a separação entre o corpo e o espírito. Tampouco dissociava, em seus textos, pensamento e vida. Como dizia Nietzsche: "Os modos de vida inspiram as maneiras de pensar e os modos de pensar criam maneiras de viver". Por diversas vezes, Nietzsche enaltece a antiguidade clássica, isto é, os gregos e os romanos e, adotando uma postura similar a dos românticos.  Nietzsche chega até mesmo a se perguntar se ele não seria um grego.
Mas há uma importante peculiaridade no emprego da extemporaneidade nesse momento. A esse respeito de, A gaia ciência é esclarecedor. Nessa oportunidade, Nietzsche especula sobre a existência de um homem “leve” o bastante “a fim de levar sua vontade de conhecimento” acima de seu tempo, um homem com “olhos que abarcam milênios”, um homem, enfim, que para “avistar as supremas medidas de valor de seu tempo, necessita antes ‘superar’ em si próprio esse tempo” sem, no entanto, ser esse impulso uma conseqüência de uma aversão a esse tempo. Portanto, nessa passagem a extemporaneidade não está ligada à negação, que é a marca do romantismo, mas à afirmação, e é desde essa perspectiva que o retorno aos antigos, manifestamente os gregos, não configura uma contradição no pensamento nietzschiano. Em outras palavras, repetir os gregos significa repetir os seus valores afirmativos, isto é, incorporar o elemento dionisíaco.
Eis aí a grande originalidade do classicismo em Nietzsche quando comparado com o classicismo de Goethe. O “clássico” em Goethe, dirá Nietzsche, “não somente deixa de explicar o elemento dionisíaco, mas o exclui”. Em contrapartida, o dionisíaco, ou o pessimismo dionisíaco, é o desdobramento do pessimismo clássico na filosofia nietzschiana. Ao ignorar o dionisíaco, Goethe não conseguiu compreender os gregos, ele não soube reconhecer que “somente nos mistérios dionisíacos, na psicologia do estado dionisíaco, se expressa o fato fundamental do instinto helênico- sua ‘vontade de vida’, e que isso garantia aos helenos a “vida eterna, o eterno retorno da vida; o futuro, prometido e consagrado no passado; o triunfante Sim à vida, acima da morte e da mudança”.
Portanto, a repetição da antiguidade entendida enquanto a assimilação do dionisíaco dissolve a negatividade que persistia na concepção de extemporaneidade concebida pelo jovem Nietzsche, ainda muito próxima ao romantismo. Nietzsche encontra no passado o valor afirmativo do agora que é já vir a ser. Relativizando os modos temporais, a extemporaneidade se torna a porta de entrada para a eternidade, tal como para os gregos.

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